A sétima das doze invocações de Maria como “Rainha” saúda a Mãe de Deus como “Rainha das Virgens", em latim Regina Virginum. Após os apóstolos, mártires e confessores da fé, já nos primórdios do cristianismo, as pessoas que optavam pelo estado de vida que Jesus escolheu começaram a ser reconhecidas por sua vocação. Aqueles e aquelas que não casavam para dedicar-se inteiramente à comunidade, ao Evangelho, aos pobres, eram conhecidos(as) como “virgens consagradas”.
Formar uma família é uma vocação belíssima. Deus escolheu nascer em uma família de periferia. Porém, o próprio Jesus não formou uma família humana para se dedicar inteiramente a fazer da terra uma grande família de irmãos. A isso chamamos opção celibatária. O normal seria casar e ter filhos. Afinal, esta foi a ordem primordial que o Criador nos deixou:
“Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. Deus os abençoou: ‘Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra.’ [...] Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o sexto dia.” (Gn 1,27-31)
Qual seria então o sentido de algumas pessoas renunciarem a formar família para viver algum tipo de virgindade consagrada? No ano 2008, o papa Bento 16 recebeu no Vaticano 500 mulheres pertencentes à Ordem das Virgens Consagradas. Apesar de existir desde o início do cristianismo, esta Ordem foi restaurada pelo Concílio Vaticano II. Na ocasião o papa disse que esta vocação é um “dom na Igreja e para a Igreja” e convidou-as “a crescer dia após dia na compreensão de um carisma tão luminoso e fecundo aos olhos da fé, quanto obscuro e inútil para os do mundo”.
De fato a vida consagrada é sempre um sinal de contradição. Em outras palavras poderíamos dizer que ela é um grito profético. O profeta denuncia e anuncia. Os consagrados são profetas por meio dos votos de castidade, pobreza e obediência.
Pelo voto de castidade, os religiosos e religiosas, denunciam a idolatria do prazer e anunciam o reino da fraternidade universal. O consagrado vive antecipadamente aquilo que um dia viveremos no céu. Por isso, ele é um sinal de esperança no meio do povo. É bonito quando todos chamam aquela mulher de “irmã” ou “madre” (mãe). Pense, por exemplo, em Madre Tereza de Calcutá ou em Irmã Dorothy Stang, assassinada em 2005. São pessoas que reconhecemos como consagradas a uma causa justa. Elas nos ajudam a entender perfeitamente o sentido da “virgindade consagrada”.
Pelo voto de pobreza o religioso denuncia a idolatria do ter e anuncia o reino da solidariedade universal. Os consagrados não retém os bens em seu próprio favor. O que eles têm é colocado a serviço da missão. Vivem da Divina Providência e dedicam seu tempo e sua vida a causa dos mais pobres.
Pelo voto de obediência o religioso denuncia a idolatria do poder e anuncia o reino da disponibilidade universal. Vivemos em um mundo onde “quem pode mais chora menos”. Para muitos a vida é uma corrida onde só vale a pena se “eu” chegar primeiro. Os consagrados aceitam o último lugar. Sabem que servir vale mais do que ser servido. Abrem mão de projetos pessoais em nome do bem comum.
Você pode ter a vocação de colocar seu coração nas mãos de Deus em total consagração. Vá em frente. Vale a pena. Pode ser em uma congregação religiosa ou comunidade de vida; mas pode ser também na Virgindade Consagrada. Procure seu bispo. Ele pode receber sua consagração secreta. Ninguém precisará saber. Existe até um rito oficial para esta consagração. Você não formará uma família na terra para viver um matrimônio místico com o Esposo da Igreja, Jesus Cristo. E não esqueça que Maria reza de um modo todo especial por você. Rainha das Virgens, rogai por nós!